Diário do Grande ABC
Apesar das previsões apocalípticas do início do ano, nenhuma montadora de carro e comercial leve com atuação no Brasil deverá registrar balanço negativo em 2009 – um ano para ficar na história. Com um mercado que terá crescimento de, no mínimo 6,4% este ano, as indústrias instaladas no País devem garantir dividendos, inclusive, para reinvestir em suas operações, já de olho na recuperação do mercado dos países sul-americanos a partir do segundo semestre do ano que vem.
“Quando se apostava que as vendas poderiam cair até 25% neste ano no Brasil, encerrar 2009 com cerca de 3,2 milhões de unidades comercializadas é garantia de ganho para todas as montadoras e importadores”, afirmou o professor da FGV (Fundação Getulio Vargas), Paulo Roberto Garbossa.
O desempenho surpreendente vai ser confirmado já nesta semana, quando as vendas internas vão superar os 2,82 milhões de unidades vendidas no ano passado inteiro. Além de compensar a queda de 40% nas exportações, o mercado doméstico também será generoso com as importações, com absorção de mais de 500 mil unidades.
“Nosso balanço será fechado com azul bem forte neste ano”, comemora o vice-presidente da General Motors, José Carlos Pinheiro Neto. “Esta rentabilidade é importantíssima para garantir a continuidade de nossos investimentos nos próximos anos.”
Com a crise da GM dos Estados Unidos, a filial brasileira conseguiu um acordo em que deixa de remeter dividendos à matriz nos Estados Unidos pelos próximos três anos. “Será importante para fortalecer a operação aqui no Brasil”, diz Pinheiro Neto.
O crescimento da receita que as montadoras devem registrar em 2009 pode não acompanhar o registrado em 2008, em razão da crise que derrubou as vendas externas. “Além disso, a forte competitividade interna também pode ter obrigado as fabricantes a garantir na escala o ganho financeiro”, afirmou Garbossa.
Em 2008, a Volkswagen foi a empresa com a maior receita líquida entre as montadoras. O faturamento foi de R$ 25 bilhões contra R$ 20,1 bilhões no ano anterior. Um PLR em torno de R$ 9.000 é indicativo dos bons resultados deste ano, que ganhou dois pontos percentuais no Brasil e briga pela liderança do mercado brasileiro com a Fiat.
A montadora sediada em Minas Gerais também deverá fechar o sétimo ano com lucratividade. No ano passado, a Fiat teve receita líquida de R$ 18,8 bilhões contra R$ 15,9 bilhões de 2007. “A nossa liderança é robusta porque vem acompanhada de resultados financeiros sólidos”, costuma repetir o presidente da Fiat, o brasileiro Cledorvino Belini.
A Ford também é uma das empresas que mais vêm crescendo no Brasil. No ano passado, teve receita líquida de R$ 14,3 bilhões contra R$ 12,5 bilhões de 2007. “O Brasil hoje é o terceiro mercado para a Ford e um dos que mais cresce no mundo”, disse o presidente da Ford para as Américas, Marc Fields, anteontem, em Camaçari, ao anunciar investimento de R$ 4 bilhões no País.
“Em breve, o Brasil vai subir de posição. Este já não é mais o País do futuro, é do presente”, discursou Fields, acrescentando que o Brasil perde apenas para Estados Unidos e Reino Unido nas vendas da Ford.
Entre as montadoras do Grande ABC, o desempenho da Mercedes-Benz e da Scania pode ser prejudicado em razão da queda do mercado de caminhões e das exportações. Mas ainda assim a recuperação das vendas internas no segundo semestre pode garantir pelo menos um empate. Em 2008, a Mercedes-Benz teve receita líquida de R$ 11,2 bilhões contra R$ 9,3 bilhões em 2007.
Com faturamento líquido de R$ 8,9 bilhões em 2008, a Toyota quase dobrou sua receita sobre 2007, quando havia registrado R$ 4,7 bilhões. A empresa já iniciou obras em Sorocaba (SP), onde vai construir sua segunda fábrica no Brasil, provavelmente para produzir um veículo pequeno, que lhe dê volume de vendas no País. Atualmente, a montadora japonesa tem uma operação pequena, mas muito rentável em razão de alto valor de seus veículos, como a picape Hilux e a SUV SW4 .
Com produtos altamente desejados, a Honda também deve ter resultado positivo em 2009. No ano passado, a montadora obteve receita de R$ 8,2 bilhões contra R$ 4 bilhões em 2007.
O grupo PSA Peugeot-Citroën deve retomar o terceiro turno em Porto Real (RJ). A empresa perdeu vendas e mercado por falta de produto. Mesmo assim não deverá perder rentabilidade. Em 2008, faturou R$ 7,5 bilhões contra R$ 6 bilhões no ano passado.
A Renault e a Mitsubishi também devem seguir trajetória de alta. Em 2008, a francesa faturou R$ 4,7 bilhões contra R$ 3,6 bi de 2007. A Mitsubishi, que produz no País com sócios brasileiros, passou de R$ 1,8 bilhão, em 2007, para R$ 4,5 bilhões no passado.
Incentivo fiscal será reduzido em 2012
O secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, informou que a prorrogação por mais cinco anos dos incentivos fiscais do regime automotivo das regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste, anunciada na última sexta-feira, em Camaçari (BA), pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, será parcial. Segundo Barbosa, os incentivos serão paulatinamente reduzidos a partir de 2012.
O secretário do Ministério da Fazenda informou também que a medida provisória já assinada pela presidente, e que deve ser publicada amanhã, estendendo os benefícios, traz uma novidade: a exigência de as empresas investirem 10% do valor do incentivo fiscal em pesquisa e desenvolvimento e em serviços de engenharia. O objetivo, de acordo com o secretário, é estimular a inovação e a qualificação profissional e, dessa maneira, ampliar a competitividade da indústria brasileira.
Barbosa disse que a decisão de se renovar o regime automotivo do Nordeste um ano antes de seu encerramento, programado para o ano que vem, tem por objetivo estimular os investimentos das empresas do setor. O secretário explicou que as companhias trabalham com um horizonte de longo prazo e, para evitar que as empresas adiassem suas decisões de investimento, o governo federal resolveu dar esse sinal favorável.
Para Barbosa, o total do investimento do setor automotivo até 2015 pode chegar a R$ 8 bilhões. “Essa medida marca uma postura mais agressiva do governo no estímulo ao investimento e à competitividade”, afirmou o secretário. Um dos incentivos principais do programa garante créditos tributários mais elevados às montadoras e fabricantes de autopeças que se investem naquelas regiões.
Os cerca de R$ 4 bilhões que a Ford vai investir na Bahia, anunciados na sexta-feira, já levam em conta esse horizonte.
Fonte: Diário do Grande ABC/Wagner Oliveira | www.dgabc.com.br
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