Tuesday, November 10, 2009

Ford começa a tirar Detroit do marasmo

Valor Econômico

Há anos é moda pegar pesado com os automóveis produzidos em Detroit, classificando-os de carentes de estilo, qualidade e eficiência no consumo de combustível. Mas, a julgar pelos resultados apresentados pela Ford no terceiro trimestre – o primeiro lucro desde 2005 -, as marcas de automóveis americanas não estão de todo acabadas.

É claro, o diretor-presidente Alan Mulally deixou claro que um bom trimestre não representa uma recuperação. A economia dos Estados Unidos continua anêmica e milhões de pessoas estão mais preocupadas em conseguir um emprego ou manter o que já têm, do que comprar o carro novo. Também é verdade que o lucro líquido de US$ 1 bilhão da Ford se deve em parte ao uso habilidoso do “bisturi” por Mulally no corte de custos.

Mesmo assim, há evidências crescentes de que os veículos da Ford começam a cair no gosto dos compradores de uma maneira que parecia impossível um ano atrás. Se a Ford conseguir manter o ímpeto, poderá fugir do trabalho monótono que tomou conta de Detroit – cujas montadoras vivem se reestruturando de uma crise para outra -, e em algum momento alcançar uma lucratividade sustentada. “Alan está colocando a companhia no caminho certo”, afirma Jeremy Anwyl, diretor-presidente da Edmunds.com.

Evitar a corte de falências e a ajuda do governo americano ajudaram a Ford a roubar clientes da Chrysler e da General Motors. E assim como a maior parte das montadoras, a Ford beneficiou-se do programa do governo para incentivar os consumidores a trocarem seus carros velhos por modelos novos. Mas os consumidores vêm mostrando uma disposição em comprar os carros da Ford. No terceiro trimestre, a Ford atribuiu US$ 1,9 bilhão em receitas aos preços mais salgados. Sim, o programa de incentivo de troca dos carros velhos por novos ajudou. Mas a Ford também faturou mais por veículo no trimestre, bem antes do programa do governo ter entrado em vigor.

Em mais um sinal de força, a Ford retirou os descontos, mesmo com a GM continuando a oferecer grandes cortes nos preços. No mês passado, a Ford gastou em média US$ 2.909 em incentivos por veículo, segundo a Edmunds.com, cerca de 25% menos que há um ano e quase US$ 1.400 por veículo menos que a GM.

O que está por trás do crescente resplendor das marcas da Ford? Nos últimos dois anos, a montadora lançou uma série de novos modelos, incluindo versões melhoradas do Fusion, Taurus, uma nova picape F-150 e o sedan Lincoln MKS. Muitos desses veículos estão sendo elogiados pelo estilo e economia de combustível, disputando palmo a palmo os rankings de qualidade com a Toyota e Honda. O Taurus, que foi ressuscitado por insistência de Mulally e que jé foi considerado uma aposta arriscada, está sendo vendido a partir de US$ 26.000. Isso é mais caro que o preço do sedan que ele substituiu. E ainda melhor: 20% dos compradores estão optando pelos Taurus de alto desempenho, cujos preços começam nos US$ 37.000, a mesma faixa de um modelo BMW.

A Ford ainda tem o que percorrer. Embora seus carros estejam despertando mais a atenção do consumidor, a Edmunds.com relata que o porcentual de compradores interessados nos modelos da Ford, em seu site de venda de automóveis na internet, caiu em setembro depois do término do programa do governo americano de incentivo à troca de automóveis. E mais: a Ford ainda está tendo problemas para ganhar tração nas regiões costeiras dos Estados Unidos, onde os modelos japoneses e europeus vêm se mantendo firmes há um bom tempo. Além disso, muitos compradores estão mais propensos a comparar os modelos da Ford com os veículos da GM, que os da Toyota ou Honda, em mais um sinal de que ela precisa se esforçar mais para atrair os amantes dos carros importados.

Mas com a Ford ganhando participação de mercado e poder de formação de preço em uma economia fraca, Mulally & Co. têm muito o que exibir por seus esforços. “Nossas marcas já chegaram a ser vistas como marcas baratas”, diz Mark Fields, que comanda as operações da Ford nas Américas. “Mas isso está mudando. Não se trata de uma ilusão.”

Fonte: Valor Econômico | www.valoronline.com.br

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