Valor Econômico
Enquanto o conjunto da indústria brasileira ainda se recompõe após o choque promovido pela crise econômica mundial entre o fim de 2008 e os primeiros meses deste ano, as montadoras negociaram acordos salariais acima da média e superiores aos do ano passado quando o PIB brasileiro crescia a taxas de 5% ao ano. Beneficiada por medidas de reduções de impostos por parte do governo federal e diante de um mercado interno aquecido, a indústria automobilística concedeu reajustes reais entre 2% e 5%, percentuais que devem ser perseguidos, agora, por outros setores, segundo avaliação de economistas e sindicalistas.
Metalúrgicos das montadoras Renault e Volvo, do Paraná, conquistaram o maior acordo salarial na indústria brasileira em 2009 quando são somados reposição, aumento real e abono, segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócioeconômicos (Dieese). Após paralisação de apenas um dia, na terça-feira, os 2,6 mil trabalhadores da Volvo, que produz ônibus e caminhões em Curitiba, conseguiram reposição da inflação de 4,44% (segundo o INPC) mais aumento real de 3%, totalizando 7,57% de reajuste, além do abono de R$ 2 mil. Além disso, a empresa comprometeu-se a manter o nível médio de emprego até o começo de dezembro.
Na Renault-Nissan, sediada em São José dos Pinhais, os 4,5 mil empregados conseguiram negociar os mesmos valores e mais 1% de aumento real que havia ficado pendente no ano passado. Ao todo, vão receber 8,65% de aumento salarial e mais o abono de R$ 2 mil. A produção na montadora estava parada desde o dia 4.
Segundo Cid Cordeiro, economista do Dieese, se for considerado o impacto do abono para o pessoal administrativo e operacional, que tem salário médio de R$ 4 mil, o ganho real equivale a mais 3,75%. Se for levado em conta apenas o operacional, cujo salário médio é de R$ 2 mil, ele sobe para 7,5%. Por esse cálculo, na Volvo o ganho total dos metalúrgicos foi de 10,5% e, na Renault, de 11,5%.
Para Carlos Morassutti, diretor de recursos humanos da Volvo, foi uma “proposta excelente, principalmente levando-se em consideração o atual contexto econômico, de queda nas vendas em relação ao ano passado.” A Renault não quis falar sobre o reajuste. Cordeiro, do Dieese, acha que o resultado deve influenciar as campanhas de outras categorias no país, servindo de referência para as negociações salariais no segundo semestre.
“A indústria automobilística recebeu redução de impostos por parte do governo federal e, ainda que perdendo margem nas exportações, conseguiu manter níveis altos de produção e venda para o mercado interno”, analisa David Kupfer, diretor do Grupo de Indústria e Competitividade da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). “Tudo isso serviu para embasar a decisão das montadoras de dividir parte desse ganho com os metalúrgicos”.
Para ele, os reajustes dados este mês são compreensíveis, mas ainda sim surpreendentes. “Trata-se de uma questão setorial. De modo algum esses reajustes sinalizam uma trajetória para o conjunto das indústrias. Não alcançarão sequer o restante da indústria metal-mecânica”.
Ontem, 4 mil trabalhadores do setor de autopeças de São Bernardo, Diadema e Ribeirão Pires promoveram protestos e paralisações parciais almejando conquistar os mesmos reajustes concedidos pelas montadoras aos metalúrgicos do ABC.
No interior de São Paulo, os metalúrgicos da Toyota e da Honda, negociaram aumento de 10%, composto por reposição da inflação (INPC) e mais 5,3% reais – percentual superior aos 2% pagos nas montadoras do ABC. O acordo da Toyota e da Honda não prevê abono. Nas contas do sindicato do ABC, o abono de R$ 1,5 mil equivale a um aumento real de 2,07%, o que levaria o reajuste da categoria para 4,11%. De acordo com o Dieese, no primeiro semestre, 76% dos acordos superaram a inflação. Dos 188 acordos acima da inflação, 114 pagaram até 1% de aumento real e em apenas 10 o reajuste acima da inflação superou 3%.
Fonte: Valor Econômico | www.valoronline.com.br
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